A progressão argumentativa nas redações de concursos e vestibulares comumente deixa os estudantes em situação complicada: como podemos desenvolver o raciocínio de forma clara, estabelecendo uma relação lógica entre os argumentos e alcançando a tão desejada coesão?
Primeiramente, vamos lembrar de uma máxima muito importante: um bom texto é um texto bem planejado. Sobre os primeiros passos do planejamento, fiz duas Lives no meu canal do Youtube. Vou deixar o link aqui para você:
No momento do preparo da argumentação, os detalhes fazem muita diferença na hora de alcançar o convencimento da veracidade de sua tese. E hoje vou lhe falar sobre dois tipos de raciocínio para você desenvolver o seu texto (e como os dois se mesclam na construção argumentativa): a dedução e a indução.
Existem diversas maneiras de se desenvolver os raciocínios dedutivos e indutivos, mas me permita fazer, aqui, uma explicação simples (embora superficial) apenas para alcançar o propósito direto deste texto: a aplicação desse conhecimento na escrita da dissertação.
DEDUÇÃO: raciocínio desenvolvido do geral para o particular.
INDUÇÃO: raciocínio desenvolvido do particular para o geral.
O RACIOCÍNIO DEDUTIVO NA DISSERTAÇÃO
A partir do momento em que detectamos nossa tese (viu os vídeos que deixei lá em cima, né?), passamos a tomá-la como nosso ponto de partida e de chegada. Pense assim: quando começamos uma discussão? Quando temos uma ideia diferente da do nosso interlocutor e, então, vamos (educadamente!) expor nossos argumentos para, no final, concluir que nossa ideia (nossa tese) era realmente válida.
Tomemos a nossa tese como o “geral” e os argumentos como os “particulares”. No campo macroestrutural, o planejamento geral do nosso texto, aplicaremos o raciocínio dedutivo: lançaremos a nossa afirmação e, nos parágrafos, vamos discutir pontos particulares que comprovarão a ideia inicial.
Lembre-se: um argumento por parágrafo! O famoso TÓPICO FRASAL.
TÓPICO FRASAL: a ideia central de cada parágrafo. O leitor vai terminar o seu parágrafo podendo dizer: “ah, aqui, o texto falou ISSO!”
Vejamos uma rápida exemplificação:
Em 2019, a FUVEST lançou a seguinte pergunta: “de que maneira o passado contribui para a compreensão do presente?” (tema que, aliás, fora trabalhado poucos meses antes por um concurso da FCC, usando como mote o incêndio no Museu Nacional.)
O candidato poderia tomar como tese: “A construção da sociedade é resultado de um conjunto de valores e crenças desenvolvido e perpetuado por gerações anteriores” (existem inúmeras possibilidades, essa é só a afirmação a ser usada como exemplo, ok?)
Assumindo a tese como “geral”, como poderemos particularizá-la? Quais os pontos específicos que, somados, levarão à validação da minha proposição inicial?
Uma possibilidade:
Primeiro argumento: influência religiosa. Posso mostrar como, desde a Idade Média, a religião foi utilizada como meio de padronização social, mostrando diversos hábitos sociais que tem aí a sua causa. Portanto, para entender tais costumes, é necessário recorrermos ao passado.
Segundo argumento: diferença racial. Posso abordar casos explícitos de racismo e desigualdade tomando como ponto de partida questões históricas (partindo, por exemplo, da escravidão e da dominação europeia).
Terceiro argumento: desenvolvimento científico. Posso apresentar como o desenvolvimento científico está presente na constituição de nossa sociedade atual, enfatizando que tal desenvolvimento só foi possível com o conhecimento de estudos anteriores, levando a uma contínua progressão.
PRECISO COLOCAR TRÊS ARGUMENTOS? Na verdade, isso é determinado unicamente pelo tamanho do texto. Alguns concursos públicos, por exemplo, trabalham com redações de até 60 linhas, sendo perfeitamente possível trabalharmos com três ou até quatro argumentos. O mais comum, porém, são as propostas solicitando até 30 linhas; nelas, desenvolver três parágrafos de desenvolvimento pode comprometer a profundidade de análise de cada um, fazendo a maioria dos candidatos preferir trabalhar com dois tópicos frasais. Mas isso não é uma “regra da redação”, é só uma questão de espaço mesmo... se fossem 500 linhas, poderíamos fazer 10 argumentos!
Vejamos o que temos então:
Perceba como, para montar o percurso argumentativo, eu me vali de um raciocínio DEDUTIVO: parti de uma ideia geral em direção às particularizações, aos aspectos específicos surgidos a partir de uma afirmação abrangente.
O RACIOCÍNIO INDUTIVO NA DISSERTAÇÃO
Uma das principais funções da chamada Coesão Textual é permitir que o leitor acompanhe nosso raciocínio do início ao fim, sem se perder na argumentação, percebendo como cada dado apresentado se relaciona ao assunto do texto. E é minha função, como autor, proporcionar isso a ele.
Como posso garantir que o leitor termine cada parágrafo com a plena percepção de como o tópico frasal escolhido leva à confirmação da tese? Usando o raciocínio INDUTIVO!
Imagine o primeiro parágrafo do desenvolvimento do texto que planejamos acima. Primeiramente, haveria a exposição do tópico frasal, o aspecto particular: no caso do exemplo, teríamos a explicitação de que há grande influência religiosa na constituição da nossa sociedade. Em seguida, no desenvolvimento da ideia, seria mostrado que, para se entender nossa relação social atual sob tal influência, precisamos nos remeter a pontos do passado. Ao término do parágrafo estaria claro que, a partir da percepção da influência religiosa, podemos comprovar que o entendimento do presente depende da análise do passado (nossa tese!)
Resumindo: na estrutura interna do parágrafo, saímos do aspecto particular (tópico frasal) e chegamos ao geral (tese).
Do particular para o geral: raciocínio INDUTIVO!
Os raciocínios dedutivo e indutivo não são excludentes. Como vimos, no planejamento geral da nossa redação, podemos utilizar da dedução (com cada tópico frasal particularizando um aspecto da tese); enquanto na escrita dos parágrafos nos utilizamos da indução (partindo do tópico frasal e conduzindo a sua relação com a tese).
E é justamente daí que surge a estrutura chamada de “parágrafo-padrão”. Mas isso é assunto para um próximo post...
Grande abraço, e bons estudos!
Caco Penna
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