No artigo passado, falei a respeito do uso do raciocínio dedutivo e indutivo na composição da dissertação. Se você ainda não leu, vou deixar o link aqui para você:
Hoje vamos nos aprofundar um pouco mais na questão do uso do raciocínio indutivo na construção dos parágrafos, chegando, então, ao chamado “parágrafo-padrão”.
Primeiramente, é bom deixarmos claro que essa não é uma construção obrigatória. Costumo dizer que é o “arroz com feijão” da escrita textual, aquele básico que dá certo... agora, é possível construirmos os parágrafos com variações de estrutura (desde que mantenham o foco, a clareza e a coesão) ainda respeitando os parâmetros do gênero “dissertação de vestibular/concurso”.
Bom, o parágrafo-padrão, como vimos, vai seguir o raciocínio indutivo; terá, portanto, a seguinte estrutura:
APRESENTAÇÃO DO TÓPICO FRASAL (Introdução)
DESENVOLVIMENTO DA IDEIA (Desenvolvimento)
RELAÇÃO COM A TESE (Conclusão)
Vamos tomar como exemplo a construção de um possível parágrafo de desenvolvimento do planejamento textual que fizemos no post anterior (já o leu, né?):
Os preceitos religiosos, em suas diversas manifestações, acarretaram hábitos até hoje basilares em nossa organização social. Já na Idade Média, a Igreja Católica impunha hábitos teocêntricos e perseguia os seus questionadores; na cultura ocidental, temos as bases familiares e a sociedade patriarcal como reflexos da influência cristã. Além disso, Weber já relacionara a organização capitalista aos fundamentos da doutrina protestante, tomando nosso sistema socioeconômico como consequência de convicções de épocas anteriores.
Vamos separar as partes que compõem esse texto:
1 – APRESENTAÇÃO DO TÓPICO FRASAL:
“Os preceitos religiosos, em suas diversas manifestações, acarretaram hábitos até hoje basilares em nossa organização social.” – Aqui, apresentamos ao leitor o “assunto” do parágrafo. Para provar a tese de que “a construção da sociedade é resultado de um conjunto de valores e crenças desenvolvido e perpetuado por gerações anteriores”, vamos tratar da influência dos preceitos religiosos; esse é o nosso TÓPICO FRASAL.
2 – DESENVOLVIMENTO DA IDEIA:
“Já na Idade Média, a Igreja Católica impunha hábitos teocêntricos e perseguia os seus questionadores; na cultura ocidental, temos as bases familiares e a sociedade patriarcal como reflexos da influência cristã. Além disso, Weber já relacionara a organização capitalista aos fundamentos da doutrina protestante” – Aqui podem ser trabalhadas diversas estratégias argumentativas. No texto em questão, utilizamos o paralelo histórico, a ilustração e o argumento de autoridade. O importante é não perder o foco: seja qual for o recurso utilizado, nada poderá ultrapassar o limite delineado pelo tópico frasal e sua relação direta com a tese.
3 – RELAÇÃO COM A TESE:
“tomando nosso sistema socioeconômico como consequência de convicções de épocas anteriores." – A tese não é a de que nossa sociedade atual é reflexo de hábitos anteriores? Pois então... desse modo, o parágrafo tem a sua conclusão lembrando o leitor de por que esses pontos foram apresentados. A relação com a tese é um modo de guiar o leitor no raciocínio que estamos desenvolvendo, conduzindo-o à conclusão à qual queremos chegar.
ATÉ AQUI TUDO BEM, MAS....
Normalmente, porém, os concursos e vestibulares trabalham com redações de até 30 linhas. E então você pode pensar: “certo, mas para fazer tudo isso, já se foram umas 10 ou 12 linhas... não cabe!”
Para isso, temos algumas soluções:
1 – Não são todos os parágrafos que precisam seguir essa estrutura. Você pode, por exemplo, trabalhar o primeiro parágrafo assim e, no segundo, deixar a relação com a tese já para a conclusão (que virá logo em seguida).
2 – É possível, de acordo com a necessidade, sintetizar algumas ideias, como por exemplo:
Os preceitos religiosos acarretaram hábitos basilares em nossa sociedade. A organização patriarcal, por exemplo, é reflexo da influência cristã, oriunda da Idade Média. Além disso, Weber já relacionara a organização capitalista às bases da doutrina protestante, tomando nosso sistema socioeconômico como consequência de convicções anteriores.
3 – Há também a possibilidade de selecionar: em vez de trabalhar com os dois parâmetros, escolher apenas um:
Os preceitos religiosos acarretaram hábitos basilares em nossa sociedade. Weber já relacionara a organização capitalista aos fundamentos da doutrina protestante do século XVI, tomando nosso sistema socioeconômico como consequência de convicções de épocas anteriores.
Ou manter a relação com a Igreja Católica da Idade Média e deixar o recurso do Argumento de Autoridade para o próximo parágrafo:
Os preceitos religiosos acarretaram hábitos basilares em nossa sociedade. Já na Idade Média, a Igreja Católica impunha hábitos teocêntricos e perseguia os seus questionadores; na cultura ocidental, temos as bases familiares e a sociedade patriarcal como reflexos da influência cristã. Deste modo, organizamo-nos com base em convicções oriundas de épocas anteriores.
Neste ponto, temos o nosso maior desafio: a lapidação! Olavo Bilac já dizia que o trabalho do escritor se assemelha ao do ourives: lapidar um texto exige tanta perícia e prudência quanto o fazer o alto relevo de uma flor em uma peça de ouro.
De qualquer modo, se, até hoje, você não tinha ideia de como preencher aquelas trinta linhas (que parecem infinitas quando escrevemos sem técnica), ter de escrever menos para não ultrapassar o limite parece um bom desafio, não?
Um grande abraço, e até o próximo post!
Caco Penna
cacopenna@provadeportugues.com.br
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